Apresentação


E Agora?

I

Primeiro tive uma paixão pela fotografia (que mantenho), depois comecei a pintar e gozei muito com isso. A determinada altura, no decurso de uma formação sobre gravura descobri que a AR.CO tinha uma tipografia, com tipos, cavaletes, prelos e tudo o mais. Foi uma tremenda chapada. Esteve sempre debaixo do meu nariz. O meu ofício, aquilo que eu sabia fazer e, que fazia para “ganhar a vida” Havia-se transformado numa arte.

II

Demorou algum tempo mas a ideia ficou. Fui reunindo tudo o que pude para montar a minha própria “Oficina tipográfica”. Uns tipos de madeira, outros de chumbo, uns rolos de borracha… uma pinça, um compenedor, nunca consegui arranjar um prelo, desmanchei umas paletes de madeira e construi uma prensa.
E Agora?
O que faço com isto?


III

Imprimir não foi um problema, até porque uma grande parte da minha vida fui impressor tipógrafo. Usar a impressão tipográfica como forma de arte, como forma de expressão, foi e está a ser uma aventura, uma fonte de prazer. Misturar as letras como se fossem cores, usar o significado das palavras para causar sensações e reacções.
E Agora?

IV

Há algum tempo atrás, ouvi um mestre pintor falar sobre as formas. A beleza simples do círculo ou do quadrado. A beleza simples das formas. Nem sempre os mestres falam de forma clara e só entendi o queria dizer Nadir Afonso, quando pensei da mesma forma sobre as palavras.
A beleza simples das formas.
A beleza simples das palavras!
A forma como a mesma palavra, “fala” de maneira diferente com pessoas diferentes. A forma como soa diferente dita por diferentes. As palavras que nos deixam loucos, as que nos dão fome, as que nos arrepiam como se tivéssemos frio. Pequenas conjugações de letras, códigos que cada um interpreta à sua maneira.
É sobre isto que trabalho agora. A beleza das palavras, sobretudo das pequenas palavras. Sobre códigos que por algum motivo quero passar ao papel e que a cada um contarão histórias diferentes.


V

E Agora?
O que faço com isto?

Serei poeta?
Serei pintor?
A verdade é que tenho mãos de operário.
    

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